Na manhã do dia 22 de setembro a Primo recebeu, na comunidade de Pasárgada, pessoas interessadas em compartilhar conhecimentos e experiências para reforçar o movimento pela preservação das águas e da qualidade de vida na Estação Ecológica de Fechos e região. O encontro reuniu representantes do IEF, ASPAS, Arca Amaserra, do Subcomitê das Águas da Moeda, da Escola CRESCE, Casa do Jardim, do movimento Serras e Águas de Minas, além de profissionais da área ambiental e moradores da região. Convidada pelos organizadores do evento, a Copasa, responsável por monitorar e captar as águas da Estação Ecológica de Fechos, não compareceu e não justificou sua ausência no debate.
Durante as atividades, o Caderno Água Viva*, Vol 03 da Série Casa Saudável produzida pela Primo, foi distribuído aos participantes com dicas de uso sustentável da água, alertas sobre os riscos causados pela atividade mineraria e pela privatização da água, alternativas de desinfecção sem a utilização de cloro, entre outros temas relacionados a este recurso primordial e indispensável a toda forma de vida.
Um banheiro seco (bason) tecnologia social que não gera poluição das águas e do solo, também foi desenvolvido pela Primo e apresentado aos participantes durante o encontro. Um sistema de captação que permite o reaproveitamento da água da chuva foi outra contribuição apresentada como alternativa simples e de baixo custo para regar jardins, hortas e para a limpeza da casa.
Estratégia para conter o avanço da mineração
Tema recorrente durante este encontro que celebrou o Dia Mundial Pela Limpeza das Águas (19/09), a poluição causada pela atividade mineraria que avança sobre as nascentes, córregos e lençóis freáticos da região de Fechos, foi abordada pelo jornalista e integrante do movimento pelas Serras e Águas de Minas, Gustavo Gazzinelli.
“Onde há minério, há água. Por isso, a mobilização dos moradores contra o avanço da mineração é a única forma de conter a inevitável poluição causada por esta atividade. É fundamental que a comunidade participe dos encontros, fóruns e eventos que propõem alguma forma de resistência contra a prática de extração mineraria em uma região que abriga um rico ecossistema e águas de qualidade especial. É importante frisar que os impactos da mineração sobre os mananciais são irreversíveis, podendo afetar até mesmo o abastecimento de água para Belo Horizonte”, alertou.
Ativista atuante e fundamental no processo que culminou com a criação do Parque Nacional da Serra do Gandarela, Simone Bottrel reforçou a importância da união em torno da preservação ambiental e iniciou sua fala alertando sobre a estratégia vitoriosa que impediu a mineração no Gandarela, berço de importantes mananciais que abastecem as bacias do Rio Doce e do São Francisco.
“O primeiro passo foi decidir se haveria negociação com a mineradora, reivindicando compensações pelos danos causados, ou se a postura da comunidade seria a de não aceitar nenhuma expansão da atividade mineraria na região. No Gandarela, optamos por não negociar compensações e fomos irredutíveis contra a mineração em uma região estratégica para a manutenção das águas que alimentam o ecossistema e abastecem milhares de pessoas. Agora, pela preservação de Fechos, o Fórum do Tamanduá é uma instância importante para reforçar a postura adotada por esta comunidade”, aconselhou Simone Bottrel, coordenadora do ARCA AmaSerra e integrante do Subcomitê das Águas da Moeda.
Esgoto e depósito de pneus poluem as águas de Fechos
Durante o encontro, que contou com a presença do empreendedor Francisco, responsável pela criação do loteamento Pasárgada, o engenheiro Florestal Paulo Ferreira Neto e o biólogo Leonardo Vianna, ambos diretores de Meio Ambiente da Associação dos Moradores e Proprietários de Pasárgada (ASPAS), conduziram uma dinâmica para a construção de um mapa da microbacia do córrego Tamanduá. Apelidada pelos participantes de “Acorda aí!”, a dinâmica utilizou cordas, copos, gravetos, papel e folhas para identificar a localização de córregos, afluentes, pontos de captação de água, locais já assoreados pela ação das mineradoras e ameaças causadas pelo esgoto e lixo.
“A intenção desta atividade é termos uma visão espacial sobre a microbacia a partir da construção coletiva de um mapa que irá agregar os conhecimentos de cada participante. Os temas, que naturalmente surgem durante o processo, são discutidos entre nós”, orientou Paulo Neto, morador de Pasárgada.
A poluição das águas do córrego de Fechos que recebem esgoto sem controle sanitário, advindo do Jardim Canadá, foi um dos assuntos abordados durante a produção do mapa. No entanto, a ausência da Copasa nas atividades prejudicou o debate sobre este ponto crítico já revelado por moradores, divulgado pela imprensa e ainda à espera de solução pelo poder público.
Este grave dano ambiental contamina nascentes que fornecem 200 litros de água por segundo à população dos bairros da Zona Sul de Belo Horizonte. Um dos motivos que contribuem para esta agressão ao ecossistema de Fechos é a ineficiência da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), administrada pela Copasa no bairro Jardim Canadá.
De acordo com a representante da Escola CRESCE e moradora do Vale do Sol, Camila Alterthum, a ETE não consegue tratar nem 50% do esgoto que acaba sendo descartado de forma indevida na área da reserva de Fechos. “Já alertamos as autoridades, mas, até o momento, nada foi feito”, lamenta a ex-presidente da Associação dos Moradores do Vale do Sol.
Durante a dinâmica um adesivo da campanha “Fechos, eu cuido!” foi utilizado por um participante para marcar, no mapa, a cabeceira do córrego de Fechos. Ali, um depósito clandestino de pneus ameaça a manutenção da qualidade da água e a vida do rico ecossistema da região. Identificado por moradores há mais de cinco anos, o depósito contem uma centena de carcaças de pneus de carretas em um local de difícil acesso à margem da BR 040, no Jardim Canadá. Alertados por associações e moradores sobre os danos causados ao meio ambiente, o IEF, a Copasa, Corpo de Bombeiros e a Prefeitura de Nova Lima tentam, em vão, solucionar este grave problema.
Jorge Vasconcelos, um dos primeiros moradores de Pasárgada e sempre presente nas atividades que contribuem para discutir os problemas e soluções que afetam o bem estar coletivo, comentou sobre a importância do encontro. “Nós, moradores da região, temos que, no mínimo, conhecer a geografia do lugar que escolhemos para viver. Muitos moradores não sabem que somos vizinhos de nascentes, cachoeiras, espécies da fauna e flora ameaçadas de extinção, e que tudo isso corre um sério risco de desaparecer. Temos o dever de nos inteirar sobre os problemas ambientais que nos afligem. Somente a mobilização da comunidade pode estancar, por exemplo, o avanço da mineração sobre Fechos”, alertou.
Proposta viável e economicamente vantajosa
O sanitarista Sávio Nunes contribuiu com as discussões abordando a importância da gestão comunitária da água, citando exemplos de comunidades que há mais de 20 anos realizam a auto-gestão, solidária e cooperativa, dos sistemas locais de abastecimento, pondo em prática uma forma de resistência contra o avanço da mercantilização da água.
Durante sua apresentação, Sávio Nunes também discorreu sobre alternativas utilizadas para a desinfecção da água. Em contraponto ao uso do cloro, que produz na água que iremos consumir subprodutos químicos derivados da cloração, podemos aplicar a técnica da desinfecção ultravioleta – UV.
“Quando a captação oferece uma água ainda pura e pouco contaminada, podemos utilizar alternativas de desinfecção que não adulteram a composição química da água. Este é o caso de Pasárgada onde desenvolvemos uma proposta viável e economicamente vantajosa para evitar a cloração, utilizando a desinfecção por lâmpadas de raios ultravioleta”, explicou.
A desinfecção ultravioleta – UV é um processo físico que não utiliza nenhum produto químico, não adulterando assim as propriedades físico-químicas da água. A desinfecção por UV também não gera efeito residual capaz de prejudicar os seres humanos ou o meio ambiente ou a vida aquática, como acontece com o cloro.
Próximos encontros
Seguindo uma tradição dos últimos encontros promovidos pela Primo, as atividades foram encerradas com um cardápio especial elaborado por Valéria Melchior e servido ao som instrumental do músico Alexandre Araújo. Aliás, a alimentação saudável, harmônica e livre de agrotóxicos será o tema de um novo Caderno da Série Casa Saudável e o mote para um novo encontro!
* Caderno Água Viva*, Vol. 03 da Série Casa Saudável, é distribuído gratuitamente e pode ser solicitado através do tel 31- 8524-7809 ou pelo email primatasdamontanha@gmail.com
Em breve o Vol 03 também estará disponível no site da Primo www.primo.org.br