Água usada na mineração faz até o PT criticar governo Pimentel em Minas
Edson Silva – 4.nov.2011/Folhapress Área de extração de minério na região de Araxá, no Triângulo Mineiro PAULO PEIXOTO
DE BELO HORIZONTE23/03/2015 12h12
Além de já receber críticas de setores aliados da esquerda, do empresariado e do senador Aécio Neves (PSDB), o governador Fernando Pimentel (PT) enfrenta agora também ataques do próprio partido. O tema da vez é a crise hídrica em Minas Gerais associada à grande quantidade de água consumida na exploração do minério de ferro.
O assunto tem gerado descontentamento do PT, que pressiona Pimentel para que o governo endureça as regras com as mineradoras e freie os minerodutos em expansão. Em nota, o diretório local do PT quer que o Executivo mineiro “tenha coragem de repensar o modelo de mineração no Estado”.
Além da nota, o partido tem agido também no Legislativo. O deputado petista Paulo Lamac reapresentou projeto de lei que obriga as mineradoras a devolver para Minas até 50% da água usada em minerodutos.
A nota do PT-MG foi divulgada com um título disfarçado: “Apoio ao programa de meio ambiente do governo”. Só o título, porém, e o primeiro parágrafo dão apoio às medidas de enfrentamento imediato da crise hídrica.
No texto que segue, o partido cobra a implantação do programa ambiental apresentado pelo petista –área entregue ao PMDB– e a mudança no modelo de mineração.
“O mineroduto vai na contramão da necessidade hídrica do Estado, devido ao grande volume de água para transportar o minério, provocando danos ambientais irreparáveis”, assinala a nota.
Pimentel já tornou público que não vai alterar esse modelo. Foi ao falar para empresários em novembro, pouco antes da sua posse.
Ele disse que a mineração não necessariamente significa atraso, que “essa é uma atividade vital para Minas Gerais” e que o Estado não pode ser “leniente demais nem rigoroso demais” com o setor.
“Vamos depender muito da mineração como geradora de emprego, como impulsionadora do desenvolvimento. Temos que ser firmes na defesa do nosso ambiente e do nosso patrimônio histórico, mas temos que preservar a atividade mineradora”, disse.
Joel Silva – 6.out.2014/Folhapress O governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, durante entrevista em seu escritório DESENVOLVIMENTO X AMBIENTE
Com a arrecadação estagnada e o Estado sem dinheiro para fazer investimentos, como já anunciado, o setor mineral tem ainda mais peso para o Tesouro Estadual. São 1.777 indústrias mineradoras no Estado, que geram 65.708 empregos –é o sétimo setor que mais arrecada para Minas Gerais.
O secretário de Meio Ambiente do PT-MG, Leandro Cruz, disse que a nota do partido, aprovada por unanimidade no diretório, reconhece a importância da atividade mineradora, mas que é um “modelo que degrada, promove danos ambientais irreparáveis” e deve ser revisto.
A pressão sobre Pimentel vai prosseguir, ainda mais agora que a crise hídrica torna o momento apropriado para a discussão, com governo e mineradoras sob pressão. “O partido ajuda a orientar o governo”, diz Cruz.
O peemedebista Sávio Souza Cruz, secretário de Estado do Meio Ambiente, rebate o argumento do PT ao dizer que os minerodutos passaram por estudos ambientais para serem aprovados e que os projetos de mineração têm que ser analisados caso a caso.
Ele defende o diálogo com o setor para que o ambiente seja afetado o menos possível, mas não vê a atividade como a vilã da degradação.
CONSUMO DE ÁGUA
Quase toda a água usada na mineração em Minas é captada em rios e usada em toda a cadeia de produção: lavra, beneficiamento e pelotização. O setor diz que reaproveita cerca de 80% da água utilizada.
Estimativa do Instituto Mineiro de Gestão de Águas, de 2011, diz que 29.170 litros por segundo é vazão total captada para a mineração no Estado.
Esse volume seria suficiente para abastecer uma cidade com 10 milhões de pessoas, diz o professor Marcelo Libânio, do departamento de hidrologia da UFMG. Porém, ele considera essa estimativa “extremamente elevada”.